Podemos definir a Ditadura Militar como sendo o período da política brasileira em que os militares governaram o Brasil. Esta época vai de 1964 a 1985. Caracterizou-se pela falta de democracia, supressão de direitos constitucionais, censura, perseguição política e repressão aos que eram contra o regime militar.


O golpe militar de 1964


A crise política se arrastava desde a renúncia de Jânio Quadros em 1961. O vice de Jânio era João Goulart, que assumiu a presidência num clima político adverso. O governo de João Goulart (1961-1964) foi marcado pela abertura às organizações sociais. Estudantes, organização populares e trabalhadores ganharam espaço, causando a preocupação das classes conservadoras como, por exemplo, os empresários, banqueiros, Igreja Católica, militares e classe média. Todos temiam uma guinada do Brasil para o lado socialista. Vale lembrar, que neste período, o mundo vivia o auge da Guerra Fria.
Este estilo populista e de esquerda, chegou a gerar até mesmo preocupação nos EUA, que junto com as classes conservadoras brasileiras, temiam um golpe comunista.O clima de crise política e as tensões sociais aumentavam a cada dia. No dia 31 de março de 1964, tropas de Minas Gerais e São Paulo saem às ruas. Para evitar uma guerra civil, Jango deixa o país refugiando-se no Uruguai. Os militares tomam o poder. Em 9 de abril, é decretado o Ato Institucional Número 1 (AI-1). Este, cassa mandatos políticos de opositores ao regime militar e tira a estabilidade de funcionários públicos.

























No chamado “Anos de Chumbo” com a implantação da ditadura militar, que foi do ano de 1964 até 1985, existiram movimentos musicais que protestavam contra o novo regime e utilizavam a música como principal instrumento de protesto para demonstrar a insatisfação da sociedade brasileira. A música interferia na sociedade, na tentativa de “dominar os espíritos” do povo e assim manter viva e fazer surgir a resistência ao regime. O momento social vivido interferia na música, principalmente na letra e no ritmo das canções.
Exemplos de movimentos musicais como esses temos aos montes, como: A Tropicália (1967/68), um movimento musical que tentou retomar os princípios antropofágicos de Oswald de Andrade e do movimento modernista de 1922, para romper tanto com o formato, que julgavam ser antigo, da música brasileira (bossa nova), quanto com a política vigente no pais.
Surgiram também os grandes festivais de música que deram espaço para os artistas e seus hinos contra o governo militar, o mais famoso deles foi o Festival de Música Popular Brasileira organizado pela TV Record, que consagrou vários artistas como Chico Buarque de Holanda e Geraldo Vandré.

Letra de Roda Viva, de Chico Buarque







O regime militar tinha plena consciência do poder que a música exercia na sociedade, e, com o receio de ter o seu poder ameaçado, a censura entrou em ação. Várias canções foram proibidas e vários artistas foram exilados.







Por outro lado, os meios de comunicação vinculados ao regime, divulgavam grupos musicais como a Jovem Guarda (grupo musical criado na década de 60) que não tinham engajamento
político, ou seja, não ameaçavam o poder dos militares.
O regime também soube aproveitar a música a seu favor. Em pleno "milagre econômico" na década de 70, depois da conquista do tricampeonato mundial de futebol no México pela seleção brasileira, a música, "Pra frente Brasil", foi utilizada para criar um clima de otimismo e transmitir tranqüilidade a sociedade.









Podemos dizer tranquilamente que se o regime militar não tivesse sido implantado no Brasil naquela determinada época, naquela determinada sociedade, e que, se ele não tivesse as características que teve, a música brasileira não teria as obras e os artistas, que foram produzidas e revelados na época, e hoje poderíamos viver uma etapa musical diferente da atual.





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Abaixo encontra-se uma lista de algumas músicas que marcaram os anos 60/70.
Agnus Sei
João Bosco e Aldir Blanc
Aos Nossos Filhos
Ivan Lins e Victor Martins
Apesar de Você
Chico Buarque
Arrastão (1967)
Edu Lobo e Vinicius de Moraes
Bom Conselho
Chico Buarque
Bye Bye Brasil (1980)
Chico Buarque
Cálice (1978)
Gilberto Gil e Chico Buarque
Canção da América
Milton Nascimento e Fernando Brandt
Carcará (1965)
João do Vale e José Cândido
Cartomante
Ivan Lins e Victor Martins
Como Nossos Pais (1981)
Belchior
Debaixo dos Caracóis de Seus Cabelos
Roberto Carlos e Erasmo Carlos
Disparada (1967)
Geraldo Vandré e Théo de Barros
E Daí?
Milton Nascimento e Ruy Guerra
Explode Coração (1978)
Gonzaguinha
London, London (1971)
Caetano Veloso
Maninha (1978)
Chico Buarque
Meu Caro Amigo (1976)
Francis Hime e Chico Buarque
Nada Será Como Antes (1972)
Milton Nascimento e Ronaldo Bastos
Não Chore Mais (1979)
Gilberto Gil (versão); Bob Marley
Novo Tempo
Ivan Lins e Victor Martins
O Bêbado e o Equilibrista (1983)
João Bosco e Aldir Blanc
O Que Foi Feito Deverá
Milton Nascimento e Fernando Brandt
O Que Será (À Flor da Terra) (1976)
Chico Buarque
O Rancho da Goiabada (1983)
João Bosco e Aldir Blanc
Panis et Circensis (1968)
Caetano Veloso e Gilberto Gil
Para Não Dizer Que Não Falei de Flores (Caminhando) (1968)
Geraldo Vandré
Pesadelo
Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro
Ponteio
Edu Lobo e Capinam
Querelas do Brasil (1978)
Maurício Tapajós e Aldir Blanc
Rapaz Latino Americano
Belchior
Roda Viva (1967)
Chico Buarque
Sinal Fechado
Paulinho da Viola
Viola Enluarada
Marcos Valle e Paulo César Valle


Enquanto no cenário internacional despontavam grandes astros do rock - Jimi Hendrix, Janis Joplin - e os maiores compositores da música de concerto contemporânea - Schoenberg, Messiaen, Berio - no Brasil se experimentava uma junção das artes como nunca vista antes, poetas escrevendo letras de música e músicos escrevendo poesia.

Em 1965 a TV Record lança o programa 'Jovem Guarda', com Roberto e Erasmo Carlos e Wanderléia. Por esse programa passaram os principais calouros do Brasil





Apesar da repressão, as formas mais inteligentes de arte conseguiram se destacar.
Em 17 de julho de 1968 – estudantes ocuparam a Faculdade de Direito da USP. O Comando de Caça aos Comunistas (CCC) invadiu o teatro Ruth Escobar, onde é encenada a peça Roda Viva, de Chico Buarque de Hollanda. Agride os atores e o público e destroem o teatro onde a peça era apresentada.





Resumindo o estilo:

Epopéia


'O poeta mostra o p**** para a namorada
E proclama: eis o reino animal!
Pupilas fascinadas fazem jejum'
(Cacaso)


À primeira leitura, a poesia marginal dos anos 70 parece resgatar propostas formuladas pelos escritores que redefiniram os rumos da literatura nacional na Semana de Arte Moderna de 1922, realizada em São Paulo: versos com toque humorístico e linguagem coloquial, que revelam pouca preocupação com a métrica ou com a rima, e que retratam situações bastante cotidianas. Entretanto, os marginais foram além nessa vontade de casar poesia e vida, deixando de lado o politicamente correto e se valendo do efeito libidinoso e dos palavrões – tão corriqueiros, diga-se de passagem, nas conversas entre as pessoas.

Mas, se a opção por uma linguagem coloquial e temas pouco complexos já havia sido praticada pelos modernistas, e se a crítica à conjuntura política também já tinha sido feita antes, o que de fato singulariza os marginais? Pode-se dizer que eles "desengravataram" a poesia, que desceu do pedestal e passou a freqüentar ambientes não tão eruditos. O público fiel, composto principalmente de universitários que freqüentavam a zona sul do Rio de Janeiro ou os cinemas de São Paulo, identificou-se com aquela maneira espontânea e inocente de peitar as grandes editoras.



Manhã de frio
Isabel Câmara


Trata-se de uma certa dama
que acorda aflita pelo dia
observando da janela do seu
Disco-Voador
o cinza que se irradia
desde a música —
Romântica e Alemã
até a cor fria da Dor.

Aquela Tarde
Chico Alvim

Disseram-me que ele morreu na véspera.
Fora preso, torturado. Morreu no Hospital do Exército
O enterro seria naquela tarde.
(Um padre escolheu um lugar de tribuno.
Parecia que ia falar. Não falou.
A mãe e a irmã choravam.)



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- CONTO -


Gênero enganoso, pois qualquer um pode escrever um conto e pouquíssimos sabem fazê-lo com relevância e transcendência, esta é a forma preferida pelos autores jovens brasileiros desde a década de 1970. Muitos desses contistas produziram obras de reconhecida importância. São os herdeiros da grande arte de Dalton Trevisan e Rubem Fonseca. Entre os mais significativos, figuram:


CAIO FERNANDO DE ABREU (1948-1996). Ficcionista da geração dos anos 70, Caio Fernando de Abreu expressa, sobretudo em seus contos – O ovo apunhalado (1975; Pedras de Calcutá (1977); Morangos mofados (1982) –, os dramas existenciais de jovens que viveram, ao mesmo tempo, a ditadura militar, a derrocada dos ideais esquerdistas e a liberalização dos costumes. Ou seja, jovens que assistiram ao malogro das soluções coletivistas e à emergência do individualismo burguês em sua plenitude. A saída dos desencantados personagens do escritor gaúcho é o mergulho na contracultura, na vida alternativa, no culto quase desesperado da droga e em experiências amorosas fugazes e transgressoras. É um mundo sofrido e sem esperança em que os aspectos exteriores da realidade são introjectados pelos protagonistas, resultando em angústia, desespero e náusea.
DEONÍSIO DA SILVA (1948). Contista e romancista catarinense, apresenta em suas histórias breves - Exposição de motivos(1976); Cenas indecorosas (1976); A mesa dos inocentes(1978) – um significativo painel de pequenas cidade do interior sul-brasileiro no exato momento (década de 1970) em que novos comportamentos sociais e afetivos abalavam a rígida sociedade patriarcal. Em tom sarcástico, o autor fustiga o conservadorismo e a natureza repressiva da velha ordem, vendo na revolução dos costumes um fator de progresso e libertação individual. Escritos em linguagem coloquial, os contos de Deonísio da Silva estabelecem, algumas vezes, uma dimensão de obscenidade (no sentido da obra satírica de Gregório de Matos), ao celebrar a força dos instinto como forma de protesto contra a velha ordem. Entre seus romances, dois deles – A cidade dos padres(1986) e Avante soldados, um passo para trás (1992) – situam-se, por sua força desmistificadora e sua dicção irreverente, entre os mais significativos romances históricos da ficção contemporânea brasileira. O primeiro aborda a experiência missioneira dos jesuítas, no século XVIII, e o segundo, um episódio da Guerra do Paraguai, já tratado pelo Visconde de Taunay (A retirada de Laguna).

JOÃO ANTONIO (1937-1996) Um dos escritores que mais contestaram a ditadura nos anos de 1970, o carioca João Antonio pagou o preço de uma aproximação de parte de sua obra à ideologia populista, muito em voga na época. Esta ideologia, levada para o plano artístico, caracteriza-se pela celebração das camadas populares a partir de uma perspectiva relativamente idealizada das mesmas. Ela desencadeia uma espécie de “estetização da miséria”, como se pode ver, por exemplo, nos contos de Leão-de-chácara (1975) e na pequena novela Lambões de caçarola (1978). No entanto, na década anterior, o ficcionista havia produzido em São Paulo, onde morava, um livro de contos extraordinariamente significativo: Malagueta, Perus e Bacanaço (1963). Nesta obra, João Antônio expunha, de forma simples e lírica (mas contundente), flagrantes da vida minúscula de personagens suburbanos, registrando especialmente o drama dos jogadores de sinuca, os últimos malandros paulistas, condenados ao desaparecimento pela urbanização feroz da cidade. Contos como Meninão do caixote, Afinação da arte de chutar tampinhas e o próprio conto-título do livro estão entre as melhores histórias curtas brasileiras de todos os tempos.

LUIZ VILELA(1942) Ainda que tenha escrito romances e novelas, é no conto que o mineiro Luiz Vilela encontra sua melhor expressão. Em obras como Tremor de terra (1967); No bar (1968); Tarde da noite (1970); O violino e outros contos (1989) e Contos sempre novos (2000), o autor filia-se à tradição ocidental do realismo (Maupassant e Tchecov), valorizando tanto o conto anedótico quanto o conto de atmosfera. É nesse último tipo que Vilela sente-se mais à vontade, criando pequenas narrativas em que o clima lírico e/ou dramático resulta de rápidos diálogos, sutis observações sobre o cotidiano e instantâneos da existência, especialmente de crianças e de jovens que, em geral, são os personagens mais convincentes de sua ficção. Contribui para o efeito sugestivo desses contos a utilização de uma linguagem de rara espontaneidade, cuja execução atinge a excelência nos diálogos, sempre vivos e coloridos.

SERGIO FARACO (1940). Contista sul-rio-grandense vem produzindo uma obra de grande esmero formal e de extraordinária riqueza humana – Hombre (1978); Noite de matar um homem, (1986); Dançar tango em Porto Alegre, (2000). Seus contos articulam-se em torno de dois pólos básicos: uma temática fronteiriça, centrada nos remanescentes da antiga sociedade pastoril (o universo gauchesco) que tentam manter intactos os valores de seus antepassados em meio à decomposição daquela forma de vida, condenada ao desaparecimento pela modernização do país;e uma a temática urbana em que se movimentam personagens dilacerados pelo desejo sexual, pela solidão e pela crueldade da vida social.
SERGIO SANT’ANA (1941). Ficcionista mineiro radicado no Rio de Janeiro, Sergio Sant’Ana tem como obras principais: Notas de Manfredo Rangel (1973); O concerto de João Gilberto no Rio de Janeiro (1982); Senhorita Simpson (1989). Seus contos giram em torno de angústias urbanas típicas do novo Brasil: solidão, desamparo existencial, violência, sexualidade irrefreável. Seus protagonistas são seres esmagados por estruturas que não compreendem, buscando inutilmente um sentido para a vida. Tudo isso é apresentado numa prosa requintada, em que o autor exibe um excepcional domínio da carpintaria do gênero. Já os seus romances,(Confissões de Ralfo, 1975; Simulacros, 1977), parecem perder-se no experimentalismo, não alcançando o mesmo nível dos contos.Entre tantos outros contistas expressivos, pode-se também citar Aldyr Garcia Schlee, escritor bilíngüe, que vive na zona fronteiriça entre Brasil e Uruguai, e constrói uma obra – Contos de sempre (1983) Uma terra só (1984) – inspirada na solidão do pampa, nas lembranças de guerras, nos dramas elementares da gente que vive nos pueblos, valendo-se, por vezes, de uma estrutura semântica híbrida (português e espanhol); Carmo Bernardes, que renova a ficção de temática rural goiana com algumas poucas, mas significativas obras – Areia branca (1975) e Idas e vindas (1977); Domingos Pellegrini Jr., contista paranaense que apresenta um conjunto de livros influenciados por Máximo Gorki e outros mestres do realismo social – O homem vermelho(1977); Os meninos (1977); As sete pragas (1979) – nos quais registra a desesperada luta de indivíduos de extração subalterna (motoristas, pequenos agricultores, prostitutas, etc,) contra uma “máquina social” de grande crueldade que procura triturá-los; Lorenzo Cazarré que em suas obras – Enfeitiçado por todos nós (1984) e Noturnos de amor e morte (1989) – apresenta alguns contos inesquecíveis, focalizando angustiantes experiências infantis e juvenis, transcorridas em Pelotas, sua cidade natal; Márcia Denser, que, por meio de uma linguagem densa e criativa, vem criando uma surpreendente obra – (Tango fantasma, 1976), O animal dos motéis (1981) Diana caçadora (1986) – em que o erotismo feminino, a violência e a angústia sexual e existencial associam-se intensa e ousadamente; e, por fim, Wander Piroli que com A mãe e o filho da mãe (1966) e A máquina de fazer amor (1980) constrói uma ficção de forte fundo social em que personagens de origem humilde enfrentam a coisificação da realidade, encontrando apoio junto aos seus e na própria família, disso resultando “a preservação do humano dentro de um sistema degradado”(A. Hohlfeldt).


- ROMANCE -


ANTÔNIO TÔRRES (1940) Autor de pungentes narrativas centradas na desarticulação do universo familiar da zona rural face à modernização vivida pelo país, Antônio Tôrres, em suas obras principais – Um cão uivando para a lua (1972); Os homens de pés redondos (1973); Essa terra (1976); Carta ao bispo (1979) –, registra de maneira até certo ponto desconexa (mas profundamente dramática) o desenraizamento de jovens que abandonam o seu velho mundo agrário e buscam a sorte na cidade. Incapazes de se adaptar à vida nas metrópoles, ou realizando uma adaptação degradada, esses personagens experimentam o sofrimento e a perda da identidade. Por condensar os grandes temas de sua obra, Essa terra talvez seja o romance mais importante do autor. A destruição da pequena propriedade no interior baiano, a derrocada da estrutura familiar, a loucura da mãe, o suicídio de um dos irmãos, a fuga das irmãs, uma amigada, outra prostituídas, toda essa tragédia estrutura-se em uma prosa quase selvagem, por meio de capítulos fragmentários, com várias vozes narrativas, como se o colapso daquele mundo sócio-histórico estilhaçasse a própria organização formal do romance.

FRANCISCO BUARQUE DE HOLANDA (1944). Ícone da música popular brasileira, Francisco Buarque de Holanda sempre teve uma relação muito próxima com a literatura. Nos idos de 1970, publicou uma novela alegórica, Fazenda modelo (1974), que não chegou a despertar maior entusiasmo. No entanto, a partir de Estorvo (1991), a que se seguem Benjamim (1995) e Budapeste 2003), o grande compositor revelou-se também importante ficcionista. Valendo-se de uma prosa áspera, mas de alta densidade estilística, passou a explorar algumas das questões nucleares vividas pela sociedade brasileira contemporânea. Em Estorvo, o personagem, depois de ver pelo olho mágico um rosto misterioso, resolve fugir de seu apartamento sem motivo claro para isso. Dominado por intensa sensação de mal-estar, ele começa então sua peregrinação absurda por uma cidade hostil e violenta. Vai até a casa da irmã, em um condomínio de luxo, onde rouba as jóias da família. Depois procura o sítio da própria família em busca de paz, mas lá encontra uma gente dominada pelo tráfico. Tudo parece corrompido e a sociedade vive sob o “signo da delinqüência” (Roberto Schwarz). Mesmo o mundo objetivo é freqüentemente deformado e degradado pelas alucinações do protagonista. Trata-se de uma representação literariamente complexa (posto que arrasadora) da desagregação social da vida urbana brasileira.
Em Benjamim, aparece a temática da fragmentação e duplicação da personalidade além do motivo da busca da celebridade a qualquer preço. Estes assuntos seriam retrabalhados com melhor consistência e forte dimensão irônica em Budapeste, o romance mais popular de Chico Buarque. Nele, a história de um ghost-writer, o anônimo escritor José Costa, que pára por acaso em Budapeste, desencadeia um engenhoso questionamento sobre realidade e aparência, verdade e impostura, irrelevância e transcendência dentro de uma cultura pasteurizada e consumista em que todos buscam a fama e a glória, ainda que efêmeras.
IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO (1936). Ficcionista paulista de renome internacional, cronista de largo público, emérito agitador cultural, Ignácio de Loyola Brandão é autor de uma obra diversa – Depois do sol (contos, 1965); Bebel que a cidade comeu (romance, 1968); Zero (romance, 1975); Cadeiras proibidas (contos, 1976); O beijo não vem da boca (romance, 1986); etc. Se em seus primeiros livros predominava um realismo de feição tradicional para expressar o mundo urbano, em Zero (publicado primeiro na Itália devido a sua proibição no Brasil) o escritor subverte completamente a estrutura romanesca e cria uma obra desconcertante. A visão caleidoscópica da cidade de São Paulo surge de uma espécie de enumeração caótica em que fatos relevantes e irrelevantes se misturam de forma desordenada, em que desenhos, gráficos e poemas permeiam os capítulos fragmentários, dando a impressão viva de um universo decomposto, atomizado e sem saída. O impacto de Zero foi de tal ordem que, por comparação, as obras posteriores de Ignácio de Loyola Brandão foram injustamente minimizadas.
JOÃO GILBERTO NOLL (1946) Em suas principais novelas – Bandoleiros (1965); Rastros de verão (1986); Hotel Atlântico (1989); Harmada (1993) e Lord (2004) – João Gilberto Noll vem criando um universo desolado em que personagens anônimos vagam pelas ruas das grandes metrópoles, sem passado, sem futuro e sem qualquer destino a cumprir. Atormentados pela solidão e pelo desejo físico, percebendo a realidade por meio de fragmentos e vivendo quase que exclusivamente na dimensão interior, esses protagonistas submergem no vazio, no sexo, na loucura e na idéia da morte. Como não encontram qualquer saída, resta-lhes apenas a eterna errância. Esse motivo, o do homem desenraizado e desesperançado – básico da literatura moderna ocidental – encontra na ficção de João Gilberto Noll uma de suas mais complexas traduções no Brasil.

JOSUÉ GUIMARÃES (1921-1986). Discípulo de Erico Veríssimo, do qual herdou o gosto pelo romance histórico, Josué Guimarães é autor de A ferro e fogo, romance em dois volumes – Tempo de solidão, 1972, e Tempo de guerra, 1975 – , espécie de saga da colonização alemã no Rio Grande do Sul durante o século XIX, centrada na luta cotidiana da família Schneider para se adequar ao Novo Mundo. Já em Os tambores silenciosos (1975), o autor realiza uma síntese feliz entre narrativa de costumes interioranos e sátira política, situando a ação do romance na conflituosa década de 1930. Contudo, sua obra máxima, em que pese eventuais problemas de estilo, é um relato urbano – Camilo Mortágua (1980) – construído dentro dos parâmetros do realismo tradicional do século XIX (o drama do indivíduo traduzindo o drama da classe social que ele representa), mesclado a uma situação absurda, pois o protagonista vê na tela de um cinema o filme ( sonho?alucinação?) que apresenta a história de sua própria vida.

LYA LUFT(1938) Filiada à tendência introspectiva da ficção brasileira, Lya Luft revela grande capacidade de investigar a psicologia das personagens femininas que predominam em seus principais romances – As parceiras (1980); A asa esquerda do anjo (1981; Reunião de família (1982); Quarto fechado (1984). Estas mulheres dividem-se entre as solicitações da velha ordem patriarcal, representadas pela estrutura familiar, e um fundo desejo de ruptura e libertação. Desse debate, resultam os conflitos nucleares que estruturam as narrativas da autora, sempre caracterizadas por um estilo de alto refinamento e vigor lírico. No início do século XXI, Lya Luft voltou-se para a crônica, produzindo textos curtos – sem renunciar a sua linguagem sofisticada – em que discute o sentido da vida, do amor e da felicidade. Estas crônicas, reunidas em Perdas e ganhos (2003) e Pensar é transgredir (2004), tornaram-na uma das autoras mais lidas no Brasil atualmente.

LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL(1945) – Voltado estritamente para o romance histórico, Assis Brasil vem produzindo uma obra em que procura examinar o passado legendário do Rio Grande do Sul, estado fronteiriço marcado por intermitentes conflitos bélicos e longas guerras civis. A ótica do romancista é sempre desmistificadora, seja na fixação da colonização açoriana (Um quarto de légua em quadro, 1976), ou no registro da Revolução Farroupilha (A prole do corvo, 1978), ou no exame do episódio dos Muckers (Videiras de cristal, 1990), ou ainda na implacável crítica aos caudilhos ilustrados, sob a forma de uma trilogia, espécie de anti-O tempo e o vento (Um castelo no pampa, 1992-1994). Mesmo nos relatos em que os fatos históricos são mais ou menos irrelevantes e o que importa é tão somente o drama humano (Manhã transfigurada, 1982; As virtudes da casa, 1985; Concerto campestre, 1997), o escritor descreve rigorosamente as circunstâncias objetivas do passado (comportamentos e costumes) – sempre através de uma visão crítica – construindo um quadro vivo da sociedade gaúcha em seus primórdios. Estilisticamente, Assis Brasil atém-se aos padrões tradicionais da grande narrativa realista do século XIX e sua linguagem é elegante e precisa.
MÁRCIO SOUZA (1946) Escritor amazonense, conquistou os leitores brasileiros em 1975, com o lançamento daquela que é, até hoje, a sua melhor obra, Galvez, imperador do Acre. Em meio à crise formal da época, Márcio Souza encontrou na ficção de Oswald de Andrade um modelo para seu romance. Assim, a história de Galvez é narrada sob o signo da desintegração do realismo, mediante a utilização pelo autor da paródia, da elipse, da fragmentação dos capítulos e de um humor anárquico e debochado. Galvez é um pícaro espanhol, aventureiro sem eira nem beira, e que termina servindo de instrumento do interesse das autoridades brasileiras e dos proprietários de seringais em realizar a conquista do Acre. No poder, Galvez começa a tomar algumas medidas a favor dos índios da região, passando a constituir-se em um estorvo para os novos donos do território que precisam derrubá-lo. A sátira feroz associada às inovações estruturais garantem a atualidade do romance, o que infelizmente não acontece com as demais obras do autor.

NÉLIDA PIÑON (1937) Contista e romancista carioca, Nélida Piñon vincula-se, em suas primeiras obras, – Guia-mapa de Gabriel Arcanjo (1961); Fundador (1969); A casa da paixão (1972) Tebas do meu coração (1974) – à tendência da ficção introspectiva. Em linguagem complexa e rica de efeitos sugestivos, a autora constrói um mundo em que predominam a tensão interior e ambivalência dos protagonistas e a fluidez da realidade externa. No entanto, com a publicação de A república dos sonhos (1984), Nélida Piñon aproximou-se da vertente mais realista e tradicional de ficção, produzindo um belíssimo texto sobre a vida dos imigrantes galegos no Brasil, naquele que é, provavelmente, o melhor romance brasileiro da década de 1980.

OSMAN LINS (1924-1978) Ficcionista de bem sucedidas obras realistas com forte teor psicológico – Os gestos (contos, 1957) e O fiel e a pedra (romance, 1961) – Osman Lins causou grande impacto nos meios letrados com a publicação do romance Avalovara (1973), obra de cunho experimental e vanguardista, na trilha de certos relatos do argentino Julio Cortazar, então no auge de seu prestígio. Em meio à crise estética e ideológica que varria a ficção nacional nos idos de 1970, Avalovara foi uma referência quase tão poderosa como Zero, de Ignácio de Loyola Brandão. Contudo, o cerebralismo excessivo e uma certa artificialidade narrativa tornam este romance atualmente – a exemplo de outras obras inovadoras daquela época – quase ilegível. Em 1977, Osman Lins realizou contundente ataque aos delírios teóricos de alguns professores de literatura (de Faculdades de Letras e de certos colégios) e também a muitos alunos que chegavam aos cursos de Letras totalmente ignorantes, publicando Problemas inculturais brasileiros, obra que segue bastante atual em suas denúncias.
RADUAN NASSAR (1935). Ficcionista nascido no interior de São Paulo, Raduan Nassar constitui um caso por ter experimentado largo sucesso imediatamente após a publicação de suas duas novelas – Lavoura arcaica (1976) e Um copo de cólera (1978) – e por ter, em seguida, renunciado à criação literária, entregando-se a atividades no ramo agrícola. Em 1997, voltou à cena com o lançamento de um razoável livro de contos (Menina a caminho). Depois, outra vez, retornou ao silêncio. Sua obra é bastante singular, tanto na linguagem de forte presença lírica (metáforas, ritmo poético, certo tom sentencioso, aproximação formal dos versículos bíblicos), quanto no temas (desintegração da família patriarcal, quebra das tradições morais dos imigrantes de origem libanesa, mergulho nas paixões interditas, sentimento de culpa e pressões da consciência religiosa). Dessa fusão entre estilo original, dramas familiares, referências bíblicas e mundo sócio-histórico em crise nasceram Lavoura arcaica e Um copo de cólera, novelas cultuadas por quase toda a crítica universitária brasileira.


- MEMÓRIAS -


Embora haja um significativo número de obras ficcionais de natureza memorialística, o gênero das memórias propriamente dito nunca foi praticado em grande quantidade no Brasil. Algumas exceções são as obras de Oswald de Andrade (Um homem sem profissão, 1954), Graciliano Ramos (Memórias do cárcere,1954), José Lins do Rego (Meus verdes anos, 1956 ).
A partir da década de 1970, todavia, assistiu-se ao lançamento de importantes produções desse gênero em que o escritor evoca tanto o seu passado pessoal quanto o seu tempo histórico. Entre elas destacam-se Solo de clarineta, de Erico Verissimo, Navegação de Cabotagem, de Jorge Amado e, em especial, os seis volumes das memórias de Pedro Nava (1903-1984), Baú de ossos, Balão cativo, Chão de ferro, Beira-mar, Galo-das-trevas, O círio perfeito (1973 -1983) Obra-prima do gênero no Brasil, este conjunto de textos é uma magnífica reconstituição de tudo aquilo que se pode entender por civilização mineira (passado tradicional, valores rígidos, famílias de antiga linhagem, com suas glórias e seus silêncios, sua grandeza e suas perversões).

O estilo barroco, quase ornamental, impregnado de lirismo e de dramaticidade, e a “disposição imaginosa dos acontecimentos”(A. Candido) transformam as memórias de Pedro Nava numa espécie de exuberante romance sobre um mundo morto que renasce pela magia verbal do escritor.
No fim da década de 1970 e início dos anos 80, com o processo de redemocratização em curso, vieram à luz dezenas de evocações do período politicamente sombrio da ditadura. O que é isso, companheiro (1970), de Fernando Gabeira, e Os carbonários (1980), de Alfredo Syrkis, são as obras melhor elaboradas de um amplo conjunto de títulos interessantes do ponto de vista histórico ou do drama humano que expressam, mas esteticamente menores. O livro de Fernando Gabeira tem como núcleo a ação guerrilheira, cuja culminância dá-se com o seqüestro do embaixador norte-americano no Brasil (197 ). O de Alfredo Syrkis focaliza o dia-a-dia de um aparelho “subversivo” e o isolamento social de seus integrantes, quase todos muito jovens e despreparados para a vida clandestina. Além da temática, essas duas obras memorialísticas apresentam em comum a visão de que a tentativa de derrubar o governo militar pela guerrilha fora um grave erro político. Os reflexos no cotidiano familiar do desaparecimento do pai – assassinado nos porões do regime – constituem a base do sensível relato de Marcelo Rubens Paiva, Feliz ano velho, notável êxito editorial dos anos 80. Mais tarde, esse autor trocou as memórias pela ficção, mas não conseguiu alcançar a mesma simplicidade e mesma força de comoção de sua obra de estréia. Literariamente, o texto mais significativo entre todos os depoimentos sobre o período militar é o de Flávio Tavares – Memórias do esquecimento – publicado em 2002, quando o assunto da resistência armada à ditadura já não despertava tanto interesse. Apesar de suas revelações serem até certo ponto decepcionantes – dada a proeminência política do autor na época retratada –, a evocação das experiências pessoais (principalmente as da tortura), é realizada com apreciável profundidade psicológica e estilo extremanente elaborado. Confirmando seu gosto por um tipo de memórias em que os fatos históricos, a linguagem literária e mesmo a dimensão ficcional se juntam, o autor lançou, em 2004, o fascinante O dia em que Getúlio matou Allende.Ainda na esfera das memórias de base política, mas com escrita literária, o contista Sergio Faraco surpreendeu o país com a publicação de Lágrimas na chuva (2002). Na obra, Faraco mergulha nas lembranças amargas de sua estada na antiga União Soviética, na condição de estudante de Sociologia. A paixão que nutre por uma jovem soviética faz com que seja olhado com desconfiança pelos membros do Partido Comunista. Encarcerado em um hospital psiquiátrico para dissidentes políticos, conhece o desespero e possibilidade da loucura e da morte. Os horrores da repressão soviética (já em plenos anos de 1960), o aniquilamento do ser como forma de dissuasão política e o amor impossível entre um jovem brasileiro e uma moça russa conferem ao texto uma rara densidade emocional.


- ALGUNS AUTORES -



José Ribamar Goulart Ferreira nasceu em São Luís do Maranhão, o quarto filho do dono de uma quitanda na cidade. Ferreira Gullar (nome adotado em 1948) fez os seus básicos no Colégio São Luís Gonzaga. Dotado de bela voz, trabalhou como locutor numa emissora da capital. Em 1951, cheio de ambições literárias transferiu-se para o Rio de Janeiro. Tornou-se revisor da célebre revista O cruzeiro e, em 1954, publicou sua primeira obra A luta corporal. Em seguida aderiu ao Concretismo. Em 1958 fundou o grupo Neoconcreto no Rio de Janeiro. No começo da década de 1960, participou do Centro Popular de Cultura da extinta UNE, cujo projeto era levar a arte (sempre politizada) aos estratos sociais mais pobres do país. O golpe de 1964 desarticulou por completo este movimento. Em1968, após a edição do A.I.5, Ferreira Gullar foi preso juntamente com Paulo Francis, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Mudou-se então para Paris, depois para Santiago do Chile, onde vivenciou o golpe do general Pinochet contra o presidente Salvador Allende, e por fim se estabeleceu em Buenos Aires. Na capital argentina escreveu sua obra-prima, Poema sujo. Absolvido pelo STF, regressou ao Brasil em 1977 e foi trabalhar na tevê Globo, escrevendo roteiros para seriados como Aplauso e Carga pesada. Após o falecimento de João Cabral de Melo, Ferreira Gullar converteu-se na principal voz da lírica contemporânea brasileira.
OBRAS PRINCIPAIS: A luta corporal (1954); Dentro da noite veloz (1975); Poema sujo (1975); Na vertigem do dia (1980); Barulhos (1987); Muitas vozes (1999).Ferreira Gullar estreou muito jovem com A luta corporal. “O nome do livro – diz o poeta – não é por acaso: era uma luta comigo mesmo. Na minha busca terminei fragmentando a linguagem. Achava que a linguagem era uma realidade. Desarticulei-a para encontrar essa realidade: ela não tinha essência nenhuma.”
Logo em seguida, o autor maranhense aproxima-se dos concretistas de São Paulo. Contudo, abjura-os em pouco tempo. Após esta ruptura, e sob o influxo da radicalização ideológica do início dos anos 60, vincula-se ao pensamento progressista da época, todo ele ligado às formulações populistas do presidente João Goulart. Rapidamente Ferreira Gullar torna-se um dos porta-vozes dos artistas politicamente engajados daquela década.
Publica então dois polêmicos livros de ensaios Cultura posta em questão (1965) e Vanguarda e subdesenvolvimento (1969). Também o teatro o atrai. Ajuda a fundar o grupo Opinião e escreve com Oduvaldo Viana Filho a peça Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Com Dias Gomes escreve a peça Dr. Getúlio, sua vida e sua glória. Já os poemas, publicados apenas em jornais e revistas da época, confirmam o engajamento do autor e revelam certa tendência panfletária e uma freqüente queda no prosaísmo. Muitos desses poemas foram reunidos, mais tarde, em Dentro da noite veloz.

Um deles, Agosto 1964, é bastante conhecido:



Entre lojas de flores e de sapatos, bares,
mercados, butiques
viajo
num ônibus Estada de Ferro – Leblon
Volto do trabalho, a noite em meio,
fatigado de mentiras.
O ônibus sacoleja. Adeus, Rimbaud,
relógio de lilases, concretismo,
neoconcretismo, ficções de juventude, adeus,
que a vida
eu a compor à vista aos donos do mundo.
Ao peso dos impostos, o verso sufoca,
a poesia agora responde a inquérito policial-militar.
Digo adeus à ilusão
Mas não ao mundo. Mas não à vida,
Meu reduto e meu reino.
Do salário injusto,
da punição injusta,
da humilhação, da tortura,
do terror,
retiramos algo e com ele construímos um artefato
um poema
uma bandeira.


Mas é com o Poema sujo, 1975, que Ferreira Gullar encontra a solução dos impasses políticos e estéticos que impediam-no de realizar uma poesia de primeira grandeza. Politicamente, ele rompe com o comprometimento explícito das obras da década de 1960, preferindo embutir a questão social nas ações e lembranças que o poema evoca. Esteticamente, ele consegue através de uma expressão livre e ousada (mas não formalista) – uma legítima “tempestade de versos”, como disse um crítico – mergulhar na sua vida pessoal: a infância e a adolescência em São Luís, o passado próximo e o remoto, descobrindo a realidade brasileira e a sua própria interioridade a partir do exílio em outros países.



Rubem Fonseca (1925) nasceu em Juiz de Fora, mas desde os oito anos passou a morar no Rio de Janeiro, onde formou-se em Direito pela antiga Universidade do Brasil. Durante certo período tornou-se policial, experiência que lhe permitiu contato direto com os setores marginais do Rio. Mais tarde estudou Administração nos Estados Unidos. Em seu retorno ocupou cargos de destaque na atividade empresarial. A sua estréia, em 1963, com os contos de Os prisioneiros não teve grande repercussão, apesar da novidade temática e estilística dos mesmos. Em 1975, a censura do regime militar, por razões morais, proibiu o livro de contos Feliz ano novo. O fato tornou-o um escritor célebre. A partir de então passou a ser considerado o principal ficcionista brasileiro pós-Guimarães Rosa, embora alguns críticos valorizem os seus contos em detrimento de seus romances, considerados menores, exceto O Caso Morel e A grande arte. Muitas das criações do ficcionista foram adaptadas para o cinema e para a tevê.
Obras principais:
Contos: Os prisioneiros (1963); A coleira do cão (1965); Lúcia McCartney (1970); Feliz ano novo (1975); O cobrador (1980);Buraco na parede (1993); A confraria dos espadas (1998); Secreções, excreções e desatinos (2001); Pequenas criaturas (2002)Romances: O caso Morel (1973); A grande arte (1983); Buffo e Spalanzanni (1985); Vastas emoções e pensamentos imperfeitos (1988); Agosto (1990). Novela: Do meio do mundo prostituto, só amores guardei ao meu charuto (1997)


- TELEVISÃO -






Em Novembro de 2003, a Rede Globo exibiu no programa Linha Direta a história da estilista Zuzu Angel, famosa estilista dos anos 60, que teve seu filho, Stuart Angel, sequestrado durante a ditadura. Ainda na época da ditadura, quando não se podia falar do que estava acontecendo impunemente, ela dizia para quem quisesse ouvir que os militares da Base Aérea do Galeão tinham assassinado seu filho. Zuzu era seguida por arapongas e recebia ameaças de morte por telefone. Temendo que a matassem e tudo caísse no esquecimento como haviam feito ao filho, Zuzu escreveu um bilhete responsabilizando os militares se ela viesse a morrer em um acidente. Foi precisamente o que aconteceu em 14 de abril de 1976. Zuzu Angel sofreu um acidente de carro na saída do túnel que leva a São Conrado, no Rio de Janeiro.



Anos Rebeldes é uma minissérie brasileira produzida e transmitida pela Rede Globo, entre 14 de julho e 14 de agosto de 1992, às 22h30, tendo totalizado 20 capítulos. A minissérie foi inspirada nos livros: 1968 – O Ano que Não Terminou, de Zuenir Ventura e Os Carbonários, de Alfredo Sirkis.
Foi escrita por Gilberto Braga e Sérgio Marques, com a colaboração de Ricardo Linhares e Ângela Carneiro, e dirigida por Dennis Carvalho, Ivan Zettel e Sílvio Tendler, com direção geral de Dennis Carvalho.







- CINEMA -


Durante as últimas décadas o cinema brasileiro vem crescendo de uma forma significante. E é através do cinema que temos um grande acesso a informações sobre a história do nosso país. Ao pesquisarmos sobre os filmes produzidos nas últimas décadas, achamos alguns muito interessantes, que retratam (cada um de sua maneira) o movimento estudantil do fim dos anos 60 contra a ditadura.


Veremos agora exemplos de alguns desses filmes.





  • Título Original: O Que É Isso, Companheiro?
  • Direção: Bruno Barreto
  • Gênero: Drama

  • Tempo de Duração: 105 minutos
  • Ano de lançamento: 1997

  • Roteiro: Leopldo Serran, baseado no livro de Fernando Gabeira


    Sinopse: Em 1964, um golpe militar derruba o governo democrático brasileiro e, após alguns anos de manifestações políticas, é promulgado em dezembro de 1968 o Ato Constitucional nº 5, que nada mais era que o golpe dentro do golpe, pois acabava com a liberdade de imprensa e os direitos civis. Neste período vários estudantes abraçam a luta armada, entrando na clandestinidade, e em 1969 militantes do MR-8 elaboram um plano para sequestrar o embaixador dos Estados Unidos (Alan Arkin) para trocá-lo por prisioneiros políticos, que eram torturados nos porões da ditadura.










  • Título Original: Lamarca

  • País de Origem: Brasil

  • Gênero: Drama
  • Classificação etária: 14 anos

  • Tempo de Duração: 129 minutos

  • Ano de Lançamento: 1994

  • Estúdio/Distrib.: Paramount

  • Direção: Sérgio Rezende


Sinopse: Crônica dos últimos anos na vida do capitão do exército Carlos Lamarca (Paulo Betti) que, nos anos da ditadura, desertou das forças armadas, e passou a fazer oposição, tornando-se um dos mais destacados líderes da luta armada.






  • Título Original: Hércules 56

  • País de Origem: Brasil

  • Gênero: Documentário

  • Classificação etária: Livre

  • Tempo de Duração: 94 minutos

  • Ano de Lançamento: 2006

  • Estreia no Brasil: 11/05/2007

  • Site Oficial: Estúdio/Distrib.: Videofilmes

  • Direção: Silvio Da-Rin

Sinopse: Documentário sobre a luta armada contra o regime militar, focado no seqüestro do embaixador Charles Elbrick, ocorrido na semana da Independência de 1969. Em troca do diplomata, foi exigida a divulgação de um manifesto revolucionário e a libertação de 15 presos políticos, representantes de todas as tendências que combatiam a ditadura. Banidos do território nacional e com a nacionalidade cassada, foram conduzidos ao México no avião da FAB Hércules 56.











- TEATRO -


O teatro conheceu um esplendor que não resistiria à asfixia causada pela censura e pela repressão. Resultava do trabalho realizado, em especial, por dois grupos, o Oficina, em torno de seu diretor José Celso Martinez Corrêa (no exílio de 1974 a 78), e o Arena, em torno de Augusto Boal (no exílio a partir de 1969), que se dedicaram a criar uma dramaturgia brasileira e uma nova formação do ator. Escreveram e encenaram com muito sucesso, durante vários anos, originando vocações, peças, espetáculos e revelações de ator. Extremamente engajados, e invocando Brecht como nome tutelar, vincariam a história do teatro no país. Ambos os grupos seriam dizimados pelo AI - 5, Ato Institucional, que deflagrou o terror de Estado e exterminou aquilo que fora o mais importante ensaio de socialização da cultura jamais havido no país (Vasconcellos, 1987).





O período de 1964 à 1985 foi um período de tensão em todo mundo, com o medo que os países capitalistas tinham das revoltas comunistas. Por conta disso, nesse período, o Brasil viveu a época da ditadura apoiada pelos EUA. Com isso, toda forma de expressão era reprimida e censurada, nos jornais, revistas e na televisão
A música, o teatro, o cinema, e a literatura eram usados como uma forma alternativa de expor as opiniões dos artistas sobre o que estava acontecendo, porém mesmo assim muitos artistas ainda tinham suas obras censuradas.
Hoje em dia podemos ver nitidamente que, de uma forma clara ou subliminar, a maioria das obras dessa época denunciavam a ditadura e o que as pessoas sofriam com a mesma.